Espera vigilante

Luciano Motta


Uma forte crise sanitária sacode as nações. Um vírus fez com que o mundo inteiro se fechasse. Quarentena. Isolamento social. Lockdown. Ninguém tem certeza de nada. Paira em todo lugar angústia e sofrimento.

Não ignoramos que todos somos impactados neste momento tão difícil da experiência humana. Porém, para um cristão, é tempo de espera vigilante.

A PARÁBOLA DAS DEZ VIRGENS - MATEUS 25.1-13

"O reino do céu será semelhante a dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram ao encontro do noivo" (v.1).

A passagem deixa claro que há um Reino e um Noivo. O Rei Noivo partiu e em breve estará de volta para se casar. As virgens representam a igreja visível: aqueles que professam a sua fé em Cristo. O fato de serem virgens aponta uma castidade, uma pureza. Somos santos, separados para Deus.

Veja que todas as dez mulheres eram virgens. Todas estavam “aparentemente” comprometidas com o Noivo. Mas atenção: Jesus não está voltando para dez noivas – há apenas UMA NOIVA. É uma parábola, uma mensagem alegórica sobre como nós, cristãos, devemos nos preparar para o encontro com o Noivo.

"Cinco delas eram insensatas, e cinco, prudentes. Ao pegarem as lâmpadas, as insensatas não levaram azeite. As prudentes, porém, levaram azeite em suas vasilhas, juntamente com as lâmpadas" (v.2-4).

O trabalho das virgens era um só: estarem prontas para receberem o Noivo. A igreja deve estar pronta para brilhar quando Jesus voltar.

Cinco eram prudentes / inteligentes / sábias: tinham azeite para suas lâmpadas.

Cinco eram insensatas / tolas / incrédulas: não levaram azeite. 

De acordo com John Piper:
“O trabalho delas era fornecer luz, só que elas tinham lâmpadas sem óleo [sem azeite]. Velas sem pavios. Tochas sem fogo. Lâmpadas sem eletricidade. A forma externa de religião e sem poder interno”.
"E, demorando o noivo, todas começaram a cochilar e dormiram" (v.5).

O Noivo irá demorar. Isso é uma certeza: "Mas vós, amados, não ignoreis uma coisa: um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos, como um dia. Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam demorada; pelo contrário, ele é longânimo para convosco [Deus é paciente, suporta as ofensas, é tardio em se irar], não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento" (2 Pedro 3.8-9, com acréscimos meus).

Na parábola, todas as virgens dormiram. Isso fala da vida comum, ordinária. Todos trabalhamos. Todos precisamos descansar. Então, dormimos. Faz parte da vida o lazer e o descanso.

A questão é que, antes de dormir, "à noite", você deixou o seu trabalho "em dia"?

"À meia-noite, porém, ouviu-se um grito: O noivo chegou! Saí ao encontro dele!" (v.6).

"Virá, entretanto, como ladrão, o Dia do Senhor, no qual os céus passarão com estrepitoso estrondo, e os elementos se desfarão abrasados; também a terra e as obras que nela existem serão atingidas" (2 Pedro 3.10).

Alguns estarão acordados, outros dormindo.

Quem está agora mesmo aproveitando a oportunidade de se preparar durante o tempo da espera?

"Então todas as virgens se levantaram e prepararam suas lâmpadas. E as insensatas disseram às prudentes: Dai-nos do vosso azeite, pois nossas lâmpadas estão se apagando. Mas as prudentes responderam: Não; talvez não haja o suficiente para nós e para vós. Ide, porém, aos que vendem azeite e comprai-o para vós" (v.7-9).

Para as prudentes, preparar as lâmpadas era unir a estrutura ao azeite, e simplesmente acender, brilhar. Chegou o momento tão aguardado! O Noivo chegou!

Para as insensatas, preparar as lâmpadas se tornou uma tarefa inútil. Elas não tinham mais azeite. Todo "cristianismo de aparência" será exposto no momento em que o tempo de espera cessar e o Noivo chegar.

As insensatas chegaram a dizer: "Dai-nos do vosso azeite". Mas não se empresta obediência e fidelidade. Não se empresta poder do Espírito Santo e paixão pelo Noivo. Não se empresta uma vida de dedicação, entrega, espera apaixonada e vigilante por Jesus. Não se produz fé instantânea. O testemunho é gerado na experiência diária e constante de andar com Deus.

"E, assim que elas saíram para comprá-lo, o noivo chegou; as que estavam preparadas entraram com ele para a festa de casamento, e fechou-se a porta. Depois também chegaram as outras virgens e disseram: Senhor! Senhor! Abre-nos a porta. Ele, porém, respondeu: Em verdade vos digo que não vos conheço. Portanto, vigiai, pois não sabeis nem o dia nem a hora" (v.10-13).

Lembre-se: era meia-noite. O tempo de comprar azeite já tinha passado. 

A declaração “não vos conheço” é terrível! É como se Jesus dissesse: você tem a forma, a estrutura, a aparência (uma lâmpada em bom estado), mas não tem o azeite, a essência, o combustível; você não tem a realidade e a autenticidade sobre o que você aparenta ser. 

O TEMPO DE ESPERA REVELA O CORAÇÃO

Vejamos dois exemplos:

(1) Moisés, Arão e o povo no Sinai

"Vendo que Moisés demorava para descer do monte, o povo juntou-se em volta de Arão e lhe disse: Levanta-te! Faze para nós um deus [um ídolo: falso substituto de Deus] que vá à nossa frente, porque não sabemos o que aconteceu a esse Moisés, o homem que nos tirou da terra do Egito" (Êxodo 32.1, com acréscimos meus).

Hoje, não sabemos o que acontecerá após a pandemia. Qual tem sido a nossa resposta? Estamos substituindo a confiança em Deus por algum falso ídolo, como a ciência, o governo, a mídia?

Qual foi a resposta do sacerdote Arão enquanto esperava por Moisés?

"E Arão lhes disse: Tirai os brincos de ouro das orelhas de vossas mulheres, de vossos filhos e de vossas filhas, e trazei-os aqui. Então todo o povo tirou os brincos de ouro das orelhas e os levou a Arão. Ele os recebeu de suas mãos e deu forma ao ouro com um cinzel, fazendo dele um bezerro de fundição. Então eles exclamaram: Ó Israel, aí está o teu deus, que te tirou da terra do Egito. Vendo isso, Arão edificou um altar diante do bezerro e proclamou: Amanhã haverá festa ao SENHOR. No dia seguinte, eles se levantaram cedo, ofereceram holocaustos e trouxeram ofertas pacíficas. O povo sentou-se para comer e beber, e depois se levantou para se divertir" (Êxodo 32.2-6).

Não esperar em Deus leva à confusão, à mistura, a um coração dividido: o povo adorou a um ídolo (o bezerro de ouro) e, no dia seguinte, fez uma festa ao Senhor.

É tempo de um sacerdócio que espera no Senhor de forma íntegra, paciente, confiante.

Deus diz sobre Israel: “é povo de dura cerviz” (Êxodo 32.9), isto é, um povo teimoso, obstinado, que não se submete, que não se dobra. Saber esperar revela como estamos em termos de longanimidade e mansidão, que são "gomos" do fruto do Espírito (Gálatas 5.22-23).

Sobre um coração obstinado, poderíamos falar também de Saul, que não esperou pelo profeta Samuel e ofereceu sacrifício... Samuel disse justamente que Saul foi insensato ao não guardar o mandamento de Deus, por isso perdeu o trono (1 Samuel 13.8-15).

Sim, o tempo de espera revela o coração.

(2) Os discípulos no cenáculo

"Depois de ter sofrido, [Jesus] apresentou-se vivo também a eles, com muitas provas incontestáveis, aparecendo-lhes por quarenta dias e falando das coisas referentes ao reino de Deus. Enquanto participava de uma refeição com eles, ordenou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, a qual, disse ele, de mim ouvistes. Mas recebereis poder quando o Espírito Santo descer sobre vós; e sereis minhas testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria, e até os confins da terra. Depois de dizer essas coisas, ele foi levado às alturas enquanto eles olhavam, e uma nuvem o encobriu de seus olhos..." (Atos 1.3-9).

Qual foi a resposta dos discípulos em um tempo de espera? Eles obedeceram:

"Então eles voltaram para Jerusalém, vindo do monte chamado das Oliveiras, que fica perto de Jerusalém, à distância da caminhada de um sábado. Quando chegaram à cidade, subiram ao aposento superior, onde estavam Pedro e João, Tiago e André, Filipe e Tomé, Bartolomeu e Mateus; Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelote, e Judas, filho de Tiago. E, unidos, todos se dedicavam à oração, juntamente com as mulheres, com Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos dele" (Atos 1.12-14).

"Ao chegar o dia de Pentecostes, todos estavam reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um som, como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam sentados. E apareceram umas línguas como de fogo, distribuídas entre eles, e sobre cada um pousou uma. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que falassem" (Atos 2.1-4).

Não importam as circunstâncias, o Senhor é fiel em todas as Suas promessas. Ele irá cumprir cada uma delas! Cabe a nós esperar e confiar Nele.

QUAL TEM SIDO A NOSSA RESPOSTA NESTE TEMPO DE ESPERA?

O que o Senhor está nos direcionando nesses dias de pandemia e crise nas nações? Creio que a resposta a essa pergunta não será diferente de ouvirmos e praticarmos a Palavra, edificarmos nossa casa sobre a Rocha, passarmos pelos processos de crescimento e amadurecimento do Espírito Santo em nós, entregarmos nosso caminho ao Senhor e confiarmos Nele, descansarmos na segurança de que Ele está cuidando de nós.

Tudo isso aponta para uma espera vigilante, que contempla uma vida santa e piedosa:

"Visto que todas essas coisas hão de ser assim desfeitas, deveis ser tais como os que vivem em santo procedimento [um estilo de vida, uma conduta, uma postura santa] e piedade [reverência, respeito, fidelidade a Deus], esperando [mantendo os pensamentos Nele] e apressando [desejando ansiosamente] a vinda do Dia de Deus, por causa do qual os céus, incendiados, serão desfeitos, e os elementos abrasados se derreterão. Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça" (2 Pedro 3.11-13, com acréscimos meus).

"Porque a graça de Deus se manifestou [1ª vinda], trazendo salvação a todos os homens e ensinando-nos para que, renunciando à impiedade e às paixões mundanas, vivamos neste mundo de maneira sóbria, justa e piedosa, aguardando a bendita esperança e o aparecimento da glória do nosso grande Deus e Salvador, Cristo Jesus, [2ª vinda] que se entregou a si mesmo por nós para nos remir de toda a maldade e purificar para si um povo todo seu, consagrado às boas obras" (Tito 2.11-14, com acréscimos meus).

Questões finais:

Temos lâmpadas... mas temos azeite? Estamos preparados? Estamos com nosso trabalho “em dia”? Estamos dedicados a reorganizar nossa vida interior – dentro de casa e dentro de nós mesmos?

Como está nosso coração? Estamos divididos? Estamos depositando nossa confiança em “substitutos” em vez de confiarmos em Deus? Existe uma cura mais importante e valiosa neste tempo do que a cura da covid19: é a cura da nossa independência de Deus.

A oportunidade que o Pai está nos dando neste tempo de espera é sermos uma igreja unida, dedicada à oração; uma igreja que aguarda o Noivo (mantém seus pensamentos em Jesus) e apressa Sua vinda (deseja ansiosamente a presença física de Jesus). Isso fala de um estilo de vida comunitário: um encorajando o outro – todos juntos fundamentando um testemunho sobre o que Jesus fez e tem feito em nossas vidas.

É tempo de vigiarmos e orarmos, esperarmos e apressarmos a vinda do Dia de Deus. Maranata!

* Esta mensagem foi pregada por mim há quase um ano, em 05/04/2020, ainda no começo da pandemia e dos lockdowns, em um de nossos primeiros cultos online. Você pode conferir AQUI.

* A referência à fala de John Piper encontra-se AQUI.

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