Enchei-vos do Espírito - Parte 3

ENTOANDO E LOUVANDO DE CORAÇÃO AO SENHOR


Luciano Motta

Depois de discorrermos sobre a atitude de falarmos entre nós com salmos, como a primeira condição para nos mantermos cheios do Espírito, vamos abordar agora outras duas ações: entoar (ado) e louvar (psallo), que significam, respectivamente, “cantar para o louvor de alguém” e “tocar um instrumento de cordas, cantar ao som da harpa, cantar um hino, celebrar louvores a Deus com uma canção”. Salmos, hinos, cânticos espirituais... é cheia de música e louvor a vida do cristão cheio do Espírito Santo!

Alguns exemplos no Novo Testamento: após a última ceia, Jesus e os discípulos cantaram um hino antes de saírem para o monte das Oliveiras (Mateus 26.30). Logo que Cristo ascendeu aos céus, diz a Bíblia que os discípulos estavam sempre no templo, louvando a Deus (Lucas 24.53). A igreja primitiva tinha o louvor como uma das evidências da plenitude do Espírito, e isso era um fator de crescimento: “Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos” (Atos 2.46-47).

Vale destacar no verso acima o fato de os primeiros cristãos perseverarem unânimes (homothumadon) – essa palavra vem do grego homo (mesmo) e thumos (paixão, indignação, furor, ira). Significa “com uma mente, de comum acordo, com uma paixão”. Eles viviam em perfeita harmonia, louvando a Deus de coração e compartilhando a vida juntos, como um acorde preciso e bem executado. A imagem é musical: “um conjunto de notas é tocado e, mesmo que diferentes, as notas harmonizam em grau e tom. Como os instrumentos de uma grande orquestra sob a direção de um maestro, assim o Santo Espírito harmoniza as vidas dos membros da igreja de Cristo” (comentários de Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong, Sociedade Bíblica do Brasil, 2002).

Há muitas referências a hinos de louvor – respostas aos atos de Deus – nas epístolas do apóstolo Paulo:

bênçãos: saudações que envolvem a graça e a paz do Senhor, como votos e orações para que os leitores das cartas experimentem essas bênçãos mais plenamente, conforme Romanos 1.7, 1 Coríntios 1.3, Efésios 6.23-24, etc.

invocações: palavras que bendizem a Deus por Seus feitos, exaltando algo que recebemos Dele, conforme 2 Coríntios 1.3-4, Efésios 1.3-14, etc.

doxologias: declarações que glorificam a Deus (doxa = glória) e reconhecem quem Ele é (Sua Grandeza, Sabedoria, Poder, Honra). Normalmente, terminam com a expressão temporal “pelos séculos dos séculos” e um “Amém!”, conforme Gálatas 1.5, Romanos 11.33-36, Filipenses 4.20, etc.

A música era parte dos cultos da igreja primitiva: "Quando vos reunis, cada um de vós tem um hino, tem uma palavra de instrução, tem uma revelação, tem uma palavra em língua, tem interpretação. Tudo deve ser feito visando à edificação" (1 Coríntios 14.26). "A palavra de Cristo habite ricamente em vós, em toda a sabedoria; ensinai e aconselhai uns aos outros com salmos, hinos e cânticos espirituais, louvando a Deus com gratidão no coração" (Colossenses 3.16).

DANDO SEMPRE GRAÇAS POR TUDO A DEUS


Outro tipo de resposta ao Senhor, constante nas cartas e nas exortações de Paulo, que nos mantém cheios do Espírito, é dar graças (eucharisteo): “ser grato, sentir gratidão; agradecer”. Trata-se de uma expressão interior e exterior de gratidão em tudo, por tudo, por todos, sem cessar: “Regozijai-vos sempre. Orai sem cessar. Em tudo, dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco. Não apagueis o Espírito” (1 Tessalonicenses 5.16-19). Sem regozijo, orações e gratidão possivelmente iremos sufocar ou extinguir o Espírito.

Uma das formas mais enfatizadas na Bíblia de expressarmos nossa gratidão é quando damos graças a Deus pela vida dos irmãos, pelo progresso na fé, na esperança e no amor, pelo avanço da obra de Deus na igreja local (conforme Romanos 1.8, 1 Coríntios 1.4-9, 1 Tessalonicenses 1.3-5, etc.). Ações de graça nos levam a suplicar e a interceder pelos outros: “Por isso, também eu, tendo ouvido a fé que há entre vós no Senhor Jesus e o amor para com todos os santos, não cesso de dar graças por vós, fazendo menção de vós nas minhas orações, para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele, iluminados os olhos do vosso coração...” (Efésios 1.15-18). “Dou graças ao meu Deus por tudo que recordo de vós, fazendo sempre, com alegria, súplicas por todos vós, em todas as minhas orações, pela vossa cooperação no evangelho, desde o primeiro dia até agora. Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus” (Filipenses 1.3-6).

Cada uma dessas bênçãos, invocações, doxologias e ações de graça, cada instrução sobre entoar salmos, hinos e cânticos espirituais a Deus e, assim, também edificar o Corpo de Cristo, evidenciam algo muito importante: todo cristão deve ter um som de louvor e adoração, diário e permanente, dentro de si – as reuniões da igreja são preciosas oportunidades para expressarmos em canções a gratidão e a palavra de Cristo que já estão em nosso coração todos os dias.

Isso significa que ser cheio do Espírito requer uma vida “perante a face”. Elias e Eliseu foram homens assim. Viviam diante de Deus o tempo todo. Tornaram-se profetas do fogo; sinais os acompanhavam. Isaías, Ezequiel e João acessaram o trono celestial e tiveram visões e revelações impressionantes. Davi foi um homem de “uma coisa”: habitar na casa do Senhor todos os dias – assim ele pôde contemplar a beleza, o esplendor, o favor, a bondade do Senhor e meditar (Salmo 27.4). Davi compôs diversos hinos e cânticos espirituais ao Senhor. Sua vida transbordava gratidão e louvor: “Sempre tenho o Senhor diante de mim; não serei abalado, porque ele está ao meu lado direito. Por isso, meu coração se alegra e meu espírito se regozija; até mesmo meu corpo habitará seguro” (Salmo 16.8-9).

Quando estamos diante de Deus, nosso coração é transformado, alinhado, animado! As murmurações desaparecem. Mesmo em situações difíceis, não esmorecemos, mas produzimos louvor e declaramos nossa confiança em Deus.

Que tipo de homens e mulheres somos hoje? Existe permanente louvor e gratidão em nossos corações, por tudo e por todos? Não é possível ser grato a Deus sem uma vida de oração e intimidade com Ele e, consequentemente, sem estar conectado ao Corpo de Cristo. Não é possível entoar e louvar a Deus com hinos e cânticos espirituais sem reconhecer que tudo o que Ele fez e tem feito é bom e perfeito, e que tudo coopera para o bem daqueles que O amam (Romanos 8.28). Não é possível falar com salmos no dia a dia sem conhecer as Escrituras e, por isso, não poder se identificar com a vida dos salmistas em suas frustrações e conquistas. Se nosso desejo é sermos pessoas cheias do Espírito, então precisamos de uma vida “perante a face”.

Resta ainda uma última ação fundamental: sujeitarmo-nos uns aos outros. A vida com Deus nos leva aos outros. É o que veremos em breve...

Se você ainda não leu as outras partes deste artigo, comece aqui.

- - - - -

Nota: os comentários acima sobre bênçãos, invocações, doxologias e ações de graça foram extraídos do livro Dicionário de Paulo e suas cartas. 2ª ed. SP: Edições Vida Nova, 2008, p.159-163.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

TODOS TE ADORAM

As Pedras Queimadas

7 dimensões de uma igreja profética