Uma nação exposta — uma igreja exposta

Luciano Motta

O Brasil tem experimentado tempos de efervescência política. Possivelmente, nunca antes na história deste país as discussões sobre o que têm feito nossos representantes e governantes estiveram tão presentes na rotina dos brasileiros como vemos hoje — para o bem e para o mal.

As eleições deste ano escancararam como as redes sociais, os blogs e os novos meios de comunicação (vide a celeuma em torno do Whatsapp e das fake news) se tornaram os principais meios de propagação de todo tipo de opiniões e manifestações. É na arena inóspita da internet que hoje se digladiam conservadores, progressistas, liberais, esquerdistas, feministas, etc. Mídias tradicionais, como jornais, revistas e TV, ainda têm um papel importante, porém mostram-se bem menos influentes do que há poucos anos.

Muitos de nossos problemas, dilemas e contradições enquanto nação vieram à tona nesses dias. O Brasil está exposto. O mundo inteiro está vendo nossas fragilidades e idiossincrasias em função do “círculo vicioso de desgraças” que historicamente impede nosso crescimento e desenvolvimento.

Analisemos a tragédia brasileira a partir dos males da corrupção:

→ As investigações expuseram o que quase todo brasileiro já sabia: a maioria esmagadora dos governos sempre funcionou (e ainda funciona) à base de negociatas, desvios, enriquecimento ilícito, privilégios, subornos e todo tipo de crimes relacionados.

→ O assalto aos cofres públicos expôs outro problema relacionado: a má gestão dos recursos disponíveis (que não foram desviados ou roubados). Como isso tem afundado o país em crises econômicas sucessivas, desequilíbrios fiscais crescentes e serviços péssimos à população! São elevadíssimos os impostos que pagamos e igualmente elevado é o descaso criminoso dos governantes em áreas essenciais, como educação, saúde, segurança, infraestrutura, etc.

→ O caráter corrompido dos políticos que ocupam o Executivo e o Legislativo (a nível federal, estadual e municipal), somados à morosidade e à impunidade do nosso Judiciário, expõem uma formação precária de valores éticos e morais na base da sociedade brasileira: pessoas comuns toleram e cometem “pequenos” delitos cotidianos, associados ao “jeitinho” e à “malandragem” brasileira, como se observa, por exemplo, em ligações clandestinas de água, de luz e de TV a cabo; no desrespeito às leis de trânsito; no ato de sonegar impostos; etc. etc.

→ Uma vez que a corrupção e a má gestão (pública e privada) fazem parte da cultura brasileira, é de se esperar, portanto, que continuem sendo eleitos homens e mulheres sem valores éticos e morais, já envolvidos ou prestes a se envolverem em corrupção (um reflexo da própria sociedade), realimentando os problemas econômicos e administrativos, a péssima qualidade dos serviços, etc. etc. etc.

Se a nação está exposta, o que podemos dizer da igreja em tudo isso?

→ A escassez de valores éticos e morais em nossa nação expõe como a igreja cristã brasileira se esvaziou da sua essência de ser sal da terra e luz do mundo, reproduzindo muitas das mesmas práticas ilícitas (algumas até piores) que vemos lá nos altos escalões da República (inclusive na bancada dita “evangélica”) e também aqui na rés-do-chão popular: no mercado da esquina, o dono se diz “cristão”, mas é desonesto; nos escritórios, “cristãos” dão mau testemunho de sua fé ao trabalharem de forma desleixada, preguiçosa; nas famílias de certos “cristãos” faltam fidelidade, alegria, ordem, disciplina, abnegação, submissão...

→ Os discursos de diversos cristãos sobre política, a forma como têm abraçado seus candidatos nas eleições deste ano e também suas reações a opositores expõem como boa parte da igreja anda, no mínimo, desinformada a respeito do cenário político e da própria história do Brasil. É assustador o nível dos comentários nas redes sociais, que só produzem contendas e divisões. Além disso, muitos manifestam esperança de salvação em homens e em programas de governo, o que é absolutamente estranho e incoerente com as Escrituras.

→ O posicionamento de muitos cristãos expõe como se mistura erroneamente pressupostos do Evangelho com ideologias políticas: rebaixam a fé cristã a um nível humanista e secular; relativizam pilares centrais da Bíblia Sagrada em nome de bandeiras ideológicas e politicamente corretas.

→ Já que boa parte dos cristãos não se envolve com política e não sabe dos políticos; e quando há algum envolvimento, as Escrituras lhes servem mais de instrumento para reproduzir aspirações “à esquerda” ou “à direita”, e menos de fundamento da fé e do caráter, é de se esperar, portanto, que continuem os casos de corrupção, a má gestão do Estado, os péssimos serviços à população, a falta de valores éticos e morais em todas as instâncias — tudo é reflexo da própria sociedade caída e sem Deus e de uma igreja conformada à forma de pensar deste mundo caído e sem Deus.

Sim, a igreja brasileira também está exposta. 

A igreja deve reconhecer sua atual condição e se arrepender dos seus pecados, obediente às exortações que as sete igrejas da Ásia receberam — igrejas que expõem o estado do Cristianismo nos dias do fim (Apocalipse 2 e 3). Até quando a igreja brasileira continuará apegada às próprias realizações e agendas, porém mantendo-se distante do primeiro amor? Até quando tolerará doutrinas estranhas às Escrituras, sustentando obras e lideranças movidas por sofisma e arrogância? Até quando se julgará rica e próspera, uma igreja que afirma já ter tudo o que precisa, mas que não enxerga seu atual estado de miséria, pobreza, cegueira e nudez?

A igreja brasileira não pode mais funcionar domingo após domingo como se a corrupção, a má gestão dos recursos públicos, a falta de ética, a violência não fossem seus problemas também. Não pode mais terceirizar o papel de combater a pobreza e a desigualdade social, de assistir os menos favorecidos e as minorias, de lutar pelas liberdades individuais. Enquanto os movimentos de esquerda advogam para si essas ações, impondo ao mesmo tempo sua cosmovisão marxista / humanista / ateísta, a igreja deixa de encarnar a mensagem que proclama. A Bíblia ordena o cuidado dos desamparados (o pobre, a viúva, o estrangeiro). Jesus disse: “Vinde a mim todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei” (Mateus 11.28). O que a igreja tem feito nesse sentido na esfera pública, sem se deixar contaminar por ideologias, mas salgando a terra e iluminando o mundo?

A igreja brasileira precisa se arrepender de seu falso moralismo. Valores como santidade e pureza, submissão às autoridades, lealdade, justiça (que, aliás, não é sinônimo de igualdade), amor, generosidade e fidelidade devem ser as marcas dos cristãos, de suas famílias e congregações, autenticadas pela sociedade por causa da maneira como vivem, condizente com o Evangelho. Boas obras devem ser vistas pelos homens, de todos os tipos, credos e comportamentos. A igreja foi chamada para ser um padrão, um ponto de referência, uma lâmpada para iluminar a casa, uma cidade edificada sobre um monte. Assim o Pai é glorificado (Mateus 5.14-16). O que a igreja brasileira defende hoje em termos de moralidade denota realmente uma clara diferença entre o justo e o ímpio, ou há concessões (não declaradas, mas evidenciadas por condutas imorais) aos valores deste século?

A necessária, radical e profunda mudança que o Brasil precisa começa por uma nova postura da igreja.

Lembre-se: você e eu somos a igreja. O mundo está olhando para nós. Esperam de nós um posicionamento verdadeiramente cristão, não uma performance religiosa. É verdade que a nossa pátria está nos céus, mas temos responsabilidade com a terra. Aqui e agora, somos porta-vozes de boas novas: o Rei está voltando! Como representantes do Reino, desenvolvemos um estilo de vida completamente diferente da forma de pensar deste mundo — mostramos o Caminho, a Verdade e a Vida.

Cabe à igreja brasileira cumprir sua missão: “Ide” — não dá mais para viver fechada entre quatro paredes sob luzes e brilho de entretenimento cristão, à espera do “arrebatamento”, enquanto deixa o mundo à própria sorte. “Fazei discípulos” — a igreja deve preparar suas crianças e seus jovens para serem flechas poderosas nas escolas e nas universidades; deve formar homens e mulheres de caráter que sejam a diferença em todas as áreas: nos hospitais e nos serviços, no comércio e nas grandes empresas e indústrias, no Judiciário e no Congresso Nacional; deve assumir o protagonismo das causas sociais, promovendo os valores do Reino: justiça, paz e alegria no Espírito Santo.

Então, o Brasil conhecerá Jesus Cristo através de uma geração de cristãos que ocupará a esfera pública com a sabedoria e o conhecimento de Deus, com equilíbrio bíblico e intrepidez profética, denunciando os esquemas, abolindo o “jeitinho”. Essa geração será capaz de romper com o “círculo vicioso de desgraças” que aprisiona a sociedade brasileira. Assim o Pai será glorificado.

Não se trata de termos uma nação evangélica. Não se trata de termos governantes evangélicos. Não é o Brasil que eu quero (para nós mesmos ou para nosso reduto evangélico), mas o Brasil que Deus quer (“venha o Teu Reino, seja feita a Tua vontade”). Trata-se de sermos Igreja, o Corpo de Cristo, um povo que ama a Deus e ama ao próximo, que anuncia e demonstra com a própria vida, em todas as esferas da sociedade, a seguinte mensagem: “Arrependei-vos, porque o reino do céu chegou” (Mateus 4.17). Quando o Evangelho do Reino for pregado pelo Brasil e pelo mundo inteiro, para testemunho a todas as nações, então virá o fim (Mateus 24.14).

Por último, e não menos importante: em meio às discussões recentes, muito pouco se falou a respeito da necessidade de orarmos pelos nossos governantes. É fundamental orarmos regularmente nesse sentido, sejam quem forem os líderes e os representantes políticos: “Antes de tudo, exorto que se façam súplicas, orações, intercessões e ações de graças por todos os homens, pelos reis e por todos os que exercem autoridade, para que tenhamos uma vida tranquila e serena, em toda piedade e honestidade. Isso é bom e agradável diante de Deus, nosso Salvador” (1 Timóteo 2.1-3).

Que em breve o mundo olhe para o Brasil e ache uma nação diferente: menos efervescente e mais eficiente; menos corrompida e miserável; mais justa e desenvolvida. Até que o Rei venha e estabeleça plenamente o Seu Reino!

“Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, orar e buscar a minha presença, e se desviar dos seus maus caminhos, então ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra” (2 Crônicas 7.14).

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