Igreja: Comunidade de Amor - Parte 1

Luciano Motta

Vou postar aqui uma série de palavras que tenho ministrado nas últimas semanas a respeito da igreja e seu caráter comunitário (em breve esse conteúdo estará em livro). Predomina no texto a organização em tópicos, por isso nos marcadores aparecem "artigos" e "esboços".

O Pai, o Filho e o Espírito Santo são uma comunidade de amor, coexistindo de eternidade a eternidade em perfeita unidade.

Deus é Triuno = três Pessoas em perfeita unidade e amor.

Deus é “Elohim” = forma plural para o nome de Deus. É um plural majestático, no hebraico, também conhecido como “singular de intensidade”, o qual destaca a grandeza ou o somatório de atributos presentes no indivíduo e/ou, no objeto a que se refere.

Wayne Grudem, em sua Teologia Sistemática, afirma o seguinte: [1]
...esse eterno amor do Pai pelo Filho, do Filho pelo Pai, e de ambos pelo Espírito Santo faz do céu um mundo de amor e alegria, pois cada pessoa da Trindade busca dar alegria e felicidade às outras duas.
É exatamente isso o que encontramos em toda a Bíblia, especialmente no Novo Testamento: cada Pessoa de Elohim afirmando pleno amor e plena satisfação pelas outras Pessoas da Trindade, exaltando Suas qualidades e Seu caráter.

O PAI E O ESPÍRITO SANTO AFIRMAM O FILHO

"Batizado Jesus, saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba, vindo sobre ele. E eis uma voz dos céus, que dizia: Este é o meu FILHO AMADO, em quem me comprazo" (Mateus 3.16-17).

Esse fato ocorreu logo após Jesus ser batizado. Ele ainda não tinha feito nada em termos de ministério, nenhuma obra ou milagre, mas foi referendado pelo Espírito Santo e pelo Pai.

O PAI AMA E CONFIA NO FILHO

"O PAI AMA AO FILHO, e todas as coisas TEM CONFIADO às suas mãos" (João 3.35).

Esse é o testemunho de João Batista sobre Jesus, respaldando o que ele viu no batismo.

O FILHO AMA O PAI E DECLARA DEPENDER DO PAI PARA AGIR E JULGAR

"Em verdade, em verdade vos digo que o Filho nada pode fazer de si mesmo, senão SOMENTE AQUILO QUE VIR FAZER O PAI; porque tudo o que este fizer o Filho também semelhantemente o faz. Porque O PAI AMA AO FILHO, e lhe mostra tudo o que faz, e maiores obras do que estas lhe mostrará, para que vos maravilheis" (João 5.19-20).

"Quem NÃO HONRA O FILHO, NÃO HONRA O PAI que o enviou. [...] Não posso fazer coisa alguma por mim mesmo; CONFORME OUÇO, assim julgo; e o meu julgamento é justo, porque não procuro a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou" (João 5.23;30).

O FILHO HONRA O ESPÍRITO SANTO

Durante a reunião da última ceia com os discípulos (leia João 13 a 17), Jesus reafirmou os fundamentos da Sua missão, confirmando a obra e o caráter do Espírito Santo em Sua vida e também nos Seus discípulos depois que Ele fosse para o Pai:

"E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará OUTRO CONSOLADOR, a fim de que esteja para sempre convosco, O ESPÍRITO DA VERDADE, que o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque ele habita convosco e estará em vós" (João 14.16-17).

"Outro Consolador" significa "allos parakletos". A palavra allos significa “outro da mesma espécie, do mesmo tipo” (no grego, a palavra heteros também é empregada para se referir a “outro”, só que esta palavra é usada para distinguir diferentes espécies, como homem e mulher). Já o sentido de parakletos aponta para a obra do próprio Jesus: Aquele que pleiteia a nossa causa, nosso Intercessor e Ajudador, Aquele que presta socorro, Aquele que nos conduz a um conhecimento mais profundo do Pai. Os primeiros discípulos não ficariam desamparados após a ascensão de Jesus. Hoje, nós não estamos desamparados. O ESPÍRITO SANTO É UMA PESSOA EXATAMENTE COMO JESUS. O Espírito Santo habita dentro de nós e nos ajuda a sermos um com o Pai, trabalhando para que a intercessão do Filho se cumpra em nós.

O FILHO VOLTA A REAFIRMAR SEU AMOR PELO PAI

"Já não falarei muito convosco, porque o príncipe deste mundo está chegando, e ele nada tem em comum comigo. Mas faço aquilo que o Pai me ordenou, para que o mundo saiba que EU AMO O PAI. Levantai-vos, vamos sair daqui!" (João 14.30-31).

O FILHO RESSALTA NOVAMENTE A PESSOA DO ESPÍRITO SANTO

"Mas eu vos digo a verdade: convém-vos [é mais benéfico] que eu vá, porque, SE EU NÃO FOR, O CONSOLADOR NÃO VIRÁ PARA VÓS OUTROS" (João 16.7).

Jesus estava literalmente dizendo que o Espírito Santo seria mais útil para os discípulos do que Ele mesmo! E explicou:

"Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo: do pecado porque não creem em mim; da justiça, porque vou para o Pai, e não me vereis mais; do juízo, porque o príncipe deste mundo já está julgado" (João 16.8-11).

O FILHO PROTEGE O ESPÍRITO SANTO

"Se alguém proferir alguma palavra contra o Filho do Homem, ser-lhe-á isso perdoado; mas, SE ALGUÉM FALAR CONTRA O ESPÍRITO SANTO, NÃO LHE SERÁ ISSO PERDOADO, nem neste mundo nem no porvir" (Mateus 12.32).

Os fariseus acusaram o Mestre de curar um endemoninhado cego e mudo “em nome de Belzebu, maioral dos demônios”, ouviram de Jesus uma defesa expressa da Pessoa do Espírito Santo – parafraseando: Falem mal de mim, mas nunca falem mal do Espírito Santo!

O que observamos na Comunidade do Amor?

Afirmação, confiança, interdependência e proteção: marcas incontestáveis do amor e da comunhão entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

Assim como Eles são um, nós também devemos ser. As mesmas marcas de amor da Trindade também estão no DNA dos filhos de Deus:

"Amados, amemo-nos uns aos outros, porque O AMOR PROCEDE DE DEUS; e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, pois DEUS É AMOR" (1 João 4.7-8).

Sendo habitação do Espírito Santo, devemos ser expressão do amor do Pai nesses dias de crises, dores, solidão e angústia, afinal, um dia nascemos de novo, conhecemos a Deus e prosseguimos em conhecê-Lo.

Um sinal de que realmente estamos vivendo e avançando nesse amor se encontra no quanto temos doado de nós mesmos!

Arthur W. Pink, em seu livro Os atributos de Deus, diz: [2]
Deus não nos amou porque nós O amávamos, mas nos amou antes de nós termos uma só partícula de amor por Ele.
"Porque Cristo, quando nós ainda éramos fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios. Dificilmente, alguém morreria por um justo; pois poderá ser que pelo bom alguém se anime a morrer. Mas DEUS PROVA O SEU PRÓPRIO AMOR para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores" (Romanos 5.6-8).

Cristo sabia dos nossos pecados, via o quanto desprezávamos o Seu coração e, mesmo assim, nos amou com todo o Seu Ser, a ponto de morrer em nosso lugar.

Por amor, o Pai deu o Filho. Por amor, o Filho se entregou na cruz. Por amor, o Espírito Santo habita hoje no corpo limitado e mortal de todo aquele que reconheceu o senhorio de Cristo e Seu amor doador. Sim, O NOSSO DEUS É AQUELE QUE ETERNAMENTE SE DOA.

À medida que nos tornamos um com o Pai, tendo nosso coração preenchido pelo Seu amor, sempre haverá em nós uma motivação doadora, uma intenção pura, uma entrega sem reservas. Isso irá transformar totalmente nossa vida individual e nossos relacionamentos:

Como o Pai ama o Filho, nós também devemos amar nossos filhos naturais e/ou espirituais, devemos afirmar sobre eles o nosso amor, respaldá-los por quem são. Quando descansamos na certeza de que Ele nos ama, naturalmente esse amor é derramado sobre aqueles que estão sob nossos cuidados.

Da mesma forma que o Filho ama o Pai, devemos amar a Deus em primeiro lugar. A partir disso, somos capacitados a honrar nossos pais, a prezar nossos líderes, a obedecer seus conselhos e exortações. Não se trata de submissão cega, mas confiança em amor.

Se o Filho viveu em parceria e dependência do Espírito Santo, devemos fazer o mesmo. Ele habita em nós, Ele é nosso Parakletos! Além disso, o Corpo de Cristo possui partes distintas que cooperam e dependem umas das outras. Quando o sangue da aliança circula sem obstruções e a vida em comunhão se torna uma realidade, cidades inteiras são impactadas pelo amor de Deus. Não existe “carreira solo” no Reino. Precisamos uns dos outros.

O Filho defendeu o Espírito Santo. Nesses dias tão carregados de cinismo e ceticismo, devemos defender o nome e a fama do Pai, do Filho e do Espírito Santo e proteger nossos irmãos em Cristo, cuidar deles, ter zelo pela igreja, a Noiva tão amada pelo Noivo.

"Amados, SE DEUS DE TAL MANEIRA NOS AMOU, DEVEMOS NÓS TAMBÉM AMAR UNS AOS OUTROS. Ninguém jamais viu a Deus; SE AMARMOS UNS AOS OUTROS, Deus permanece em nós, e o seu amor é, em nós, aperfeiçoado" (1 João 4.11-12).

O sangue precioso que nos reconciliou com o Pai, por meio do Filho, é o mesmo sangue precioso que nos une às pessoas.

Note que a sentença “Ninguém jamais viu a Deus” está no meio de uma passagem que fala sobre amarmos uns aos outros. Se você fizer uma pesquisa na sua cidade e perguntar às pessoas se elas gostariam de ver Deus, acredito que 99% delas diria sim (até mesmo ateus confessos). Na verdade, minha leitura dessa passagem é a seguinte: Queremos ver a Deus? Queremos conhecê-Lo mais? Então precisamos amar uns aos outros! Jesus orou nessa direção:

"Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra; A FIM DE QUE TODOS SEJAM UM; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste" (João 17.20-21).

O mundo crerá em Deus e glorificará o Pai quanto mais nos aproximarmos Dele e nos tornarmos um com Ele e, por conseguinte, sermos um com nossos irmãos! [3]

Leia aqui a PARTE 2

[1] GRUDEM, Wayne. Teologia sistemática - atual e exaustiva. São Paulo: Vida Nova, 1999, p.145.

[2] PINK, Arthur W. "O amor de Deus", in: ______. Os atributos de Deus. São Paulo: Editora PES, 1990.

[3] A maior parte deste artigo encontra-se em meu livro: MOTTA, Luciano. "Amor", in: ______. Valores do Reino. São Paulo: Editora Reflexão, 2017, p.29-46.

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