Eis-me aqui

Luciano Motta

Milhões de cristãos no mundo todo tem feito esta afirmação para Deus: "Eis-me aqui". Repetidas vezes, culto após culto, com palavras diferentes, expressam um mesmo desejo: "Estou aqui para fazer a Tua vontade, Senhor". Essa é a resposta mais comum depois de uma pregação que sensibiliza os ouvintes a uma atitude ante as dificuldades da vida ou a urgência da missão. Sem dúvida, Deus usa os pregadores, os profetas, os evangelistas para comunicar Sua mensagem às pessoas. Ele escolheu o "ouvir a Palavra" para produzir fé nos corações. O problema se dá quando o resultado desse ouvir não leva a uma ação concreta e real, não produz transformação de mente e de conduta. Assim sendo, não houve fé, mas efêmeras reações emotivas que rapidamente serão esquecidas. As razões desse tipo de "fé efervescente", que ligeiramente se dissolve, podem estar na falta de uma atitude daquele que ouve - é preciso ouvir com a mente - ou ainda na mensagem pregada, inconsistente enquanto Palavra de Deus.

Questões de fé e comunicação à parte, se atentarmos para os homens da Bíblia que fizeram a afirmação "Eis-me aqui", acredito que vamos encontrar algumas respostas para esse grande hiato entre dizer "Eis-me aqui" e realmente viver esse "Eis-me aqui" no dia-a-dia. Vejamos em breves palavras as ações de Abraão e Jacó:

Abraão: "E aconteceu depois destas coisas, que provou Deus a Abraão, e disse-lhe: Abraão! E ele disse: Eis-me aqui. E disse: Toma agora o teu filho, o teu único filho, Isaque, a quem amas, e vai-te à terra de Moriá, e oferece-o ali em holocausto sobre uma das montanhas, que eu te direi. Então se levantou Abraão pela manhã de madrugada, e albardou o seu jumento, e tomou consigo dois de seus moços e Isaque seu filho; e cortou lenha para o holocausto, e levantou-se, e foi ao lugar que Deus lhe dissera" (Gênesis 22:1-3).

Jacó/Israel: "E partiu Israel com tudo quanto tinha, e veio a Berseba, e ofereceu sacrifícios ao Deus de seu pai Isaque. E falou Deus a Israel em visões de noite, e disse: Jacó, Jacó! E ele disse: Eis-me aqui. E disse: Eu sou Deus, o Deus de teu pai; não temas descer ao Egito, porque eu te farei ali uma grande nação. E descerei contigo ao Egito, e certamente te farei tornar a subir, e José porá a sua mão sobre os teus olhos. Então levantou-se Jacó de Berseba; e os filhos de Israel levaram a seu pai Jacó, e seus meninos, e as suas mulheres, nos carros que Faraó enviara para o levar" (Gênesis 46:1-5).

Verificamos um ponto em comum entre esses dois patriarcas: maturidade. À essa altura dos acontecimentos, considerando todo o contexto e não apenas os fragmentos das Escrituras citados, Abraão já havia recebido o filho da promessa e Jacó já tivera seu nome mudado para Israel. Notamos em ambos uma madura prontidão: logo obedeceram à palavra recebida, sem titubearem. Obviamente eles conheciam profundamente Aquele que falava. É, portanto, fundamental desenvolvermos nosso relacionamento com Deus a fim de adquirirmos sensibilidade para ouvirmos a Sua voz e então prontamente respondermos de modo digno ao Seu chamado.

Mas esta experiência não está reservada apenas aos "amigos maduros" de Deus. O Pai deseja ardentemente que todos os Seus filhos tenham um nível profundo de amizade com Ele, um comprometimento genuíno com a Sua vontade. Por isso ele também chama homens como Moisés e meninos como Samuel:

Moisés: "E Moisés disse: Agora me virarei para lá, e verei esta grande visão, porque a sarça não se queima. E vendo o SENHOR que se virava para ver, bradou Deus a ele do meio da sarça, e disse: Moisés, Moisés. Respondeu ele: Eis-me aqui. E disse: Não te chegues para cá; tira os sapatos de teus pés; porque o lugar em que tu estás é terra santa. Disse mais: Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó. E Moisés encobriu o seu rosto, porque temeu olhar para Deus" (Êxodo 3:3-6).

Depois de passar tempo suficiente no deserto, a ponto de se desapegar de suas próprias prerrogativas de príncipe do Egito, Moisés poderia finalmente depender somente de Deus para libertar os israelitas. Mas precisava de um encontro com Ele. A reação amedrontada de Moisés é bastante compreensível, provavelmente teríamos a mesma reação, dadas as circunstâncias. E ainda que tenha relutado inicialmente quanto ao chamado recebido, Moisés fez jus à sua resposta "Eis-me aqui" e em pouco tempo se tornou um amigo que falava face a face com Deus.

Samuel: "E o jovem Samuel servia ao SENHOR perante Eli; e a palavra do SENHOR era rara naqueles dias; as visões não eram frequentes. E sucedeu, naquele dia, que, estando Eli deitado no seu lugar (e os seus olhos começavam a escurecer, pois não podia ver), E estando também Samuel já deitado, antes que a lâmpada de Deus se apagasse no templo do SENHOR, onde estava a arca de Deus, O SENHOR chamou a Samuel, e disse ele: Eis-me aqui. E correu a Eli, e disse: Eis-me aqui, porque tu me chamaste. Mas ele disse: Não te chamei eu, torna a deitar-te. E foi e se deitou. [...] Então entendeu Eli que o SENHOR chamava o jovem. Por isso Eli disse a Samuel: Vai deitar-te e há de ser que, se te chamar, dirás: Fala, SENHOR, porque o teu servo ouve. Então Samuel foi e se deitou no seu lugar. Então veio o SENHOR, e pôs-se ali, e chamou como das outras vezes: Samuel, Samuel. E disse Samuel: Fala, porque o teu servo ouve. E disse o SENHOR a Samuel: Eis que vou fazer uma coisa em Israel, a qual todo o que ouvir lhe tinirão ambos os ouvidos" (1 Samuel 3:1-11).

Em dias de escassez da palavra de Deus, de poucas visões, o menino Samuel fora chamado. Não por acaso, logo depois da resposta "Eis-me aqui", observamos um silêncio da parte do Senhor. Tenho a seguinte impressão: naquele tempo Deus falava, os juízes e sacerdotes ouviam, porém não obedeciam. Como não havia resposta adequada, não havia fidelidade, pouco a pouco Deus passou a falar menos, e menos, e menos. Samuel nascera em resposta à oração de Ana, escolhido para mudar a história de sua geração e preparar a seguinte. Então, nesse primeiro chamado, Deus parece testá-lo com seu silêncio. Era necessário que Samuel aguçasse os ouvidos, pois ouviria aquela voz muitas e muitas vezes depois daquela noite.

O sacerdote Eli, em rara centelha de sabedoria, orientou o menino a responder: "Fala, porque o teu servo ouve". Percebo nessas palavras algo do tipo: "Pode falar, Senhor, porque eu te ouvirei e te serei fiel em todas as tuas palavras. Ao contrário do que vem acontecendo nesse tempo, meu 'Eis-me aqui' é sincero, é genuíno, não é apenas uma expressão bonita. Estou comprometido em verdadeiramente cumprir toda a tua vontade".

Essa é a resposta que devemos dar a Deus em nossos dias. Nosso "Eis-me aqui" deve estar imbricado de prontidão, obediência e atitude. Não importa tanto para o Senhor se já temos desenvolvido o nosso relacionamento com Ele, se já adquirimos certo estágio de maturidade espiritual, tampouco se somos ainda meninos na fé. Ele fala aos grandes e aos pequenos. Ele prometeu derramar do Seu Espírito sobre toda carne nos últimos dias (Joel 3). Os olhos do Senhor ainda estão atentos sobre toda a terra para fortalecer e sustentar aqueles que lhe dedicam totalmente o coração (2 Crônicas 16.9). Que nossas palavras se convertam em ações práticas. Que sejamos nós mesmos as respostas de nossas próprias orações!

Depois de todo "Eis-me aqui" espera-se um "Envia-me".

//continua//

Comentários

  1. Icaro Ferreira1.10.12

    Perfeito!
    Uma abordagem simples, mas muito pontual para nós hoje.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

TODOS TE ADORAM

7 dimensões de uma igreja profética

As Pedras Queimadas