Uma palavra para pais e filhos II

Damos continuidade ao artigo "RECONSTRUINDO OS ELOS", de Tony Felicio. Depois de tratar da família como o primeiro ambiente idealizado por Deus para suprir as necessidades dos filhos, o autor fala sobre a relação família-igreja:

FAMÍLIA, VIVA COMO IGREJA!

Um jovem cristão me disse, certa vez, que quando comparava sua casa com a casa de seus amigos não cristãos, sentia que eram eles que tinham mais alegria. Quando crescem, as crianças deixam de ter um olhar ingênuo e passam a perceber e questionar o que veem. Infelizmente, as famílias têm sido um lugar de decepção e frustração para muitos jovens. O ambiente familiar hostil e nada espiritual tem afastado nossos filhos do lugar que mais deveria protegê-los.

Nossa casa precisa ser o melhor lugar do mundo para eles. Para isso, temos de trazer o viver da igreja de volta ao lar. Quando nossa casa for como igreja, nossos filhos voltarão a sentir-se bem nos demais ambientes da igreja. Caso contrário, continuaremos a conviver com pais “crentes” e filhos “desviados”.

Casas que funcionam como igreja são famílias que vivem o verdadeiro evangelho e cultivam a presença de Deus. São casas onde não se professa uma religião, mas se experimenta uma relação pessoal, informal e prazerosa com Jesus. A tradição religiosa fez com que os princípios bíblicos fossem aplicados apenas nos “momentos de culto”. Na “igreja” se vive de um jeito e na casa, de outro. Os filhos percebem tudo e acabam por revoltar-se contra a forma religiosa e errada de igreja que conhecem.

Quando Deus planejou a igreja, criou a família. Igreja e família são, portanto, dimensões diferentes do mesmo organismo. Tudo o que está escrito sobre o viver da igreja deveria ser vivido em família; afinal, igreja são pessoas e não instituições e prédios.

Por exemplo, em Mateus 18.20 está escrito: “Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles”. Normalmente, utiliza-se esse texto quando há poucos presentes em reuniões de oração com o fim de animar as pessoas a orarem. Mas qual é o lugar onde, desde seu surgimento, só tem duas ou três pessoas? Onde há pelo menos um casal unido em nome de Jesus? Na família. Portanto, Deus quer estar no meio dos casais, entre pais e filhos, unindo irmãos.

Se igreja é casa de Deus, a família precisa ser o lugar onde se experimenta a presença de Deus; se igreja é Corpo de Cristo, a família precisa ser o ambiente em que os dons são utilizados para edificação mútua; se igreja é família de Deus, cada lar tem um Pai soberano para dar direção e distribuir os recursos como quer.

A nova geração não tolera mornidão e hipocrisia. Está cansada de religião e cercada pelo mundo. Casas cheias da presença de Deus, fundamentadas na verdade do evangelho e recheadas com o genuíno amor do Pai, são como montes altos para onde nossos jovens podem correr e equipar-se para a hostil peregrinação nesta Terra.

IGREJA, VIVA COMO FAMÍLIA!

Muitos pastores tentam produzir um ambiente atrativo para o jovem por meio de uma programação direcionada. Esse é um desejo louvável, mas perigoso. Igreja são pessoas. Uma igreja atraente são pessoas cheias da vida de Jesus. O Senhor disse que atrairia todos a si mesmo quando fosse levantado da terra (Jo 12.32). Para ser uma igreja atraente, é preciso começar a viver e pregar Jesus Cristo crucificado (1 Co 2.2). O verdadeiro evangelho é o poder de Deus. Atividades podem atrair os jovens às reuniões, mas não os prenderão em Cristo. Uma comunhão genuína com o Corpo, isso sim, prende ao Cabeça.

Precisa haver estratégias que exponham os jovens ao Espírito Santo num ambiente de relacionamento entre iguais e também em ambientes transgeracionais. É assim que toda boa família funciona.

Não quero apresentar modelos de ministério a jovens, mas quero defender um estilo de vida de igreja que é atraente a qualquer pessoa de qualquer idade: amor e verdade. Deus é amor e seu Filho é a verdade. A igreja deve ser uma família marcada pelas características do Pai e do Filho. Uma igreja assim segue o modelo da Trindade: Pai, Filho e Ajudador (Espírito Santo). A igreja é a grande família de Deus na qual ele se manifesta por intermédio de muitos pais, muitos filhos, muitas ajudadoras e muitos irmãos. Assim, qualquer pessoa que passa a fazer parte da igreja encontra uma família completa. É assim que Deus faz o solitário habitar em família (Sl 68.6)!

Quantos jovens feridos pelo abandono podem ser curados na igreja! Quantas moças marcadas pelo mundo podem ser saradas na família de Deus! Quanta fúria e amargura da juventude transviada de hoje podem ser aplacadas pelo amor e pela verdade de Cristo em sua igreja! As famílias da igreja precisam ser o lugar onde nossos filhos fazem amizades, onde são guardados e preparados para enfrentar o mundo. Precisamos juntar, em nossas casas, as forças da Palavra e da oração em comunhão para que nossos jovens conheçam o Senhor. Se eles o conhecerem, serão tão atraídos a ele que não conseguirão deixá-lo.

Nesse ambiente, Deus poderá levantar pessoas que tenham graça para ajudar a nova geração a conhecer a Cristo e a viver toda a plenitude e alegria de seu Reino – pessoas com dons, com um jeito de ser, uma história de vida e uma linguagem que lhes permitam acessar o coração dos jovens. Tais pessoas nunca devem (nem podem) substituir os pais. Podem, entretanto, cooperar com a família natural agindo como pais espirituais. Os pais são responsáveis pelos filhos, mas não podem fazer isso sozinhos. A igreja é a família de Deus. Deus reparte dons com pessoas que podem ser pais que ajudam outros pais.

O mundo descobriu como doutrinar os jovens em seus sofismas. Gerações inteiras têm sido perdidas por causa disso. Como igreja, precisamos considerar as peculiaridades deste momento da história para saber as situações pela quais os jovens estão passando e oferecer-lhes um lugar de amor, ensino e alegria a fim de poderem abrir-se e ser pastoreados. Essa necessidade deve levar-nos a ouvir de Deus como alcançar o coração da nova geração.

Há 19 anos, tenho estado com jovens em diversas partes do Brasil. Estive em congregações que tinham um trabalho específico com jovens e em outras que não tinham. O problema daquelas que têm atividades separadas é que departamentalizam a família em “ministérios”. Isso acaba favorecendo a fragmentação da família que Deus criou para ser uma unidade e não um conjunto de indivíduos isolados. Além disso, não se pode ajudar um jovem sem considerá-lo em seu contexto familiar.

As congregações que não têm trabalho específico com jovens, por outro lado, erram por desconsiderar a necessidade de oferecer relacionamentos fora da família que cooperem com os pais no papel de guiar os filhos a Jesus. Nenhum de nós consegue, sozinho, cumprir cabalmente o chamado para cuidar dos filhos. Por isso, a igreja é um corpo de muitas partes e cada uma delas tem capacidades, dons e graça para ajudar as demais.

Penso que a igreja deve investir em práticas com jovens que considerem o contexto social, espiritual e familiar em que vivem. Pastores que ajudem os pais na condução das ovelhinhas do Senhor ao projeto que tem para elas. Estratégias que utilizem o contexto do jovem para ensiná-lo a viver tudo o que qualquer filho de Deus de qualquer época e idade tem o privilégio de viver.

É importante que nossos filhos tenham amigos espirituais com quem possam conviver e crescer no Senhor; gente que compreenda o tempo e os conflitos em que vivem. Mesmo no mundo individualista em que estamos, sempre surgem os candidatos a amigos. Deus pode alcançar pessoas perdidas por meio de amizades com os jovens que já foram transformados. É essencial, porém, que antes sejam fortalecidos e edificados com amizades saudáveis na família de Deus.

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