O resgate da honra - parte 2

Luciano Motta

Refletimos inicialmente a respeito da honra devida ao Senhor (antes de continuar a leitura, leia aqui a primeira parte do artigo). Veremos agora como esse tema está presente nos relacionamentos interpessoais. Antes, é preciso ressaltar que amar a Deus está intrinsicamente ligado a amar pessoas. Jesus ordenou: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo". Isso é semelhante ao grande e primeiro mandamento (Mateus 22.39). À medida que honramos a Deus com nosso amor e obediência, centralizando-O em nossas vidas, somos preenchidos e capacitados a amar de forma equilibrada a nós mesmos e também as pessoas que nos cercam.

Devemos honrar os nossos pais. O quinto mandamento da Lei é bastante claro: "Honra teu pai e tua mãe, para que tenhas vida longa na terra que o Senhor teu Deus te dá" (Êxodo 20.12). Essas palavras são reafirmadas na Nova Aliança por Paulo: "Filhos, sede obedientes a vossos pais no Senhor, pois isso é justo. Honra teu pai e tua mãe; este é o primeiro mandamento com promessa, para que vivas bem e tenhas vida longa sobre a terra" (Efésios 6.1-3).

Em contraste a esse mandamento, não raro encontramos em nossa sociedade - e em nossas igrejas - idosos abandonados em asilos ou em suas próprias casas, vivendo em condições precárias. Filhos que deixam seus pais à revelia, como se fossem um estorvo. Pense comigo: Por que o governo brasileiro teve que criar leis específicas para proteger a Terceira Idade? Não seria uma atitude natural os mais novos cuidarem dos mais velhos, um gesto de honra, respeito e consideração por tudo o que a geração anterior fez no passado? Outro agravante é o aumento assustador dos casos de filhos que matam seus pais. Em grande parte, os delitos são cometidos por questões banais e medíocres, normalmente envolvendo dinheiro e poder.

Nesse contexto lamentável, a honra deve ser urgentemente resgatada entre nós. Ela é um instrumento poderoso para que o amor e a graça de Deus possam mudar o curso de vidas, famílias e relacionamentos. Mesmo que nossos pais tenham falhado conosco e que, por causa deles, muitos de nós estejam hoje com a alma em frangalhos, colhendo maus frutos e tentando encontrar o rumo, eles devem ser honrados. A Bíblia não diz que são merecedores de estima e apreço apenas os bons pais. Na verdade, é justo honrá-los, seja qual for a circunstância.

Mas como fazer isso se "meu pai me violentou quando criança", ou se "meus pais nunca me incentivaram", ou se "minha mãe traiu o meu pai e saiu de casa"? Como alguém conseguiria ter em alta estima pais assim? Sem a graça de Deus, é realmente impossível. Por isso, precisamos ser expostos diariamente à Sua Glória, Bondade e Misericórdia. Lembremos que Ele nos tirou de um poço de destruição, de um lamaçal, e colocou nossos pés firmados sobre uma Rocha (Salmo 40.2). Lembremos que Ele nos amou e continua nos amando com amor incondicional, tendo perdoado nossos mais terríveis pecados. Somente se reconhecermos de onde fomos salvos, se buscarmos o Senhor de todo coração e O encontrarmos em nossas orações e devoção diárias, conseguiremos quebrar o ciclo de não-graça nos lares e, consequentemente, nas cidades e nas nações.

É claro que não devemos repetir ou encobrir os erros de nossos pais. A honra não dá base para que se perpetuem ou se ignorem pecados cometidos. Cada rei de Judá e de Israel que desobedeceu a Deus, sendo permissivo com a idolatria e com a imoralidade, errando no que seus pais erraram, recebeu a seguinte sentença: "Não foi íntegro para com o Senhor, seu Deus, como foi seu pai Davi" (leia 1 e 2 Reis e 1 e 2 Crônicas). De fato, o rei Davi não foi o pai natural deles, mas foi um homem que elevou o padrão de se viver com Deus. Quando pais naturais não podem ser uma referência de integridade, devoção, quebrantamento e sensibilidade para com o Senhor, Ele mesmo providencia para nós, no Corpo de Cristo, pais espirituais cujas vidas e famílias nos ajudam a reorientar nossa identidade e nos reposicionam no Caminho.

Paulo foi um grande pai espiritual da igreja, especialmente para Timóteo, "verdadeiro filho na fé" (1 Timóteo 1.2). Na carta aos filipenses, Paulo ressalta essa condição: "sabeis que ele [Timóteo] deu provas de si e, como um filho ao lado do pai, serviu comigo em favor do evangelho" (Filipenses 2.22). Com os crentes de Corinto, o apóstolo expõe suas preocupações dessa forma: "Não escrevo essas coisas para vos envergonhar, mas para vos advertir, como a meus filhos amados. Porque ainda que tenhais dez mil instrutores em Cristo, não teríeis, contudo, muitos pais. Pois pelo evangelho eu mesmo vos gerei em Cristo Jesus. Portanto, rogo-vos que sejais meus imitadores. Por isso mesmo vos enviei Timóteo, meu filho amado e fiel no Senhor. Ele vos fará lembrar do meu modo de vida em Cristo, como por toda parte eu ensino em cada igreja" (1 Coríntios 4.14-17).

Uma distinção muito significativa é feita por Paulo nessa passagem: Existem muitos instrutores (paidagogos) e poucos pais (pater). Muitos líderes hoje ensinam, guiam, provém os recursos, mostram aonde seus discípulos devem ir. Isso é nobre e positivo, porém, insuficiente. Poucos líderes verdadeiramente geram filhos em Cristo. Poucos podem dizer: "Sejam meus imitadores". Em outras palavras: "Vejam como eu vivo e façam o mesmo". Somente pais assim podem gerar filhos maduros. E se nos faltam pessoas desse nível em nossas igrejas, o que será desta e da próxima geração? Em muitas igrejas e denominações, pais vêm sendo substituídos por gestores e empreendedores da fé, resultando em uma crise de paternidade sem precedentes. Mas isso precisa mudar. O padrão de integridade, amor e serviço deve ser elevado entre nós novamente.

Há uma promessa de vida boa e longa àqueles que honram seus pais. Está mais do que na hora, portanto, de valorizarmos aqueles que nos geraram, apesar de suas limitações e falhas. E como nossos pais naturais merecem honra, é tempo de valorizarmos também os homens e as mulheres de Deus que nos guiaram (e ainda nos guiam) até Cristo, pessoas que demonstraram (e ainda demonstram) com suas próprias vidas o que é andar com Deus.

Reconheço que entre muitos pais e filhos existem abismos aparentemente intransponíveis de mágoas, feridas, rejeições, carências de perdão e afeto. Entretanto, tenho visto grandes milagres nessa área. Antes da volta de Jesus, em meio à decadência da humanidade, Deus prometeu enviar uma capacitação sobre nós, Sua Igreja, a fim de que os corações dos filhos se convertam aos pais, e os corações dos pais se convertam aos filhos (Malaquias 4.4-6). Isso é bíblico. Isso é possível. Isso está acontecendo hoje. Filhos estão se rendendo aos pais; e pais, aos filhos. E a honra tem sido um meio fundamental para que famílias inteiras, lideranças em crise, igrejas antigamente rivais reencontrem a vontade do Pai cheio de amor.

Confira a terceira parte deste artigo aqui.

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