O resgate da honra - parte 3

Luciano Motta

Vimos até aqui que devemos honrar a Deus acima de tudo e que devemos honrar nossos pais naturais e espirituais (leia os artigos anteriores, começando pela primeira parte). Se vivenciarmos diariamente a devoção ao Senhor e obedecermos a Sua vontade, se buscarmos a unidade que há entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo e a cultivarmos em nossas famílias e igrejas, sem dúvida experimentaremos algo diferente em nossos relacionamentos. A honra será uma de nossas marcas principais.

Muito nos ensina a vida dos primeiros cristãos. Durante a leitura do livro de Atos, notamos claramente que, no cotidiano da igreja primitiva, havia amor e submissão uns para com os outros: "eles perseveravam no ensino dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. Em cada um havia temor, e muitos sinais e feitos extraordinários eram realizados pelos apóstolos. Todos os que criam estavam unidos e tinham tudo em comum. Vendiam suas propriedades e bens, e os repartiam com todos, segundo a necessidade de cada um. E perseverando de comum acordo todos os dias..." (Atos 2.42-46). Havia comum acordo, harmonia, unidade de fé e propósito.

Entretanto, sabemos que as coisas não permaneceram assim. À medida que o Evangelho se espalhava rapidamente, ultrapassando as fronteiras de Jerusalém, Judeia e Samaria, logo surgiram problemas nos relacionamento, divergências, disputas. Os apóstolos começaram a exortar a igreja, como Paulo: "Amai-vos de coração uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros" (Romanos 12.10). Ele faz essa afirmação entre outras exortações muito pontuais: "O amor seja sem fingimento. Odiai o mal e apegai-vos ao bem" (12.9) e "Não sejais descuidados no zelo; sede fervorosos no espírito. Servi ao Senhor" (12.11). Pouco antes, no começo do capítulo, estão as célebres palavras: "E não vos amoldeis ao esquema deste mundo, mas sede transformados pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus" (12.2).

Semelhantemente àquela época, o atual modo de pensar é moldado por forte individualismo e indiferença. Hoje, inclusive na igreja, é cada vez maior a sensação de que "todos buscam o que é seu, e não o que é de Cristo Jesus" (Filipenses 2.21). Mas só é possível honrarmos uns aos outros com uma mente não conformada aos nossos dias, uma honra inseparável do amor (palavras e ações movidas por um amor legítimo, fraterno, com fervor no espírito) e do serviço (uma vida que se submete ao Senhor, apegada a fazem o bem aos outros). Os dois grandes mandamentos estão aqui, de novo, evidentes: amar a Deus sobre todas as coisas e amar ao próximo como a nós mesmos.

É fundamental honrarmos aqueles que exercem liderança, como devemos agir com nossos pais: "Irmãos, pedimos que deis o devido respeito aos que trabalham entre vós, que vos presidem no Senhor e vos aconselham; e os tenhais em grande estima e amor, por causa do trabalho que realizam. Tende paz entre vós" (1 Tessalonicenses 5.12-13). E ainda: "Os presbíteros que governam bem devem ser dignos de honra em dobro, principalmente os que trabalham na pregação e no ensino. Porque a Escritura diz: Não amarres a boca do boi quando ele estiver debulhando; e: O trabalhador é digno do seu salário. Não aceites acusação contra um presbítero, se não houver mais duas ou três testemunhas" (1 Timóteo 5.17-19). Aqueles que lideram com zelo e amor, que realmente dedicam suas vidas a nos ensinar e a cuidar de nós, são merecedores de honra. Isso tem a ver, segundo a orientação bíblica, com uma boa remuneração, com amor e aceitação, com combate a fofocas e insinuações que firam a estima dos líderes.

Por outro lado, líderes devem ser exemplo de integridade, abnegação e serviço, honrando ao Senhor com o chamado que receberam. Jesus disse: "O maior entre vós seja como o mais novo; e quem governa, como quem serve" (Lucas 22.26). As mesmas cartas paulinas que orientam a igreja a respeitar e a cooperar com seus líderes também destacam as atribuições daqueles que foram levantados presbíteros no Corpo de Cristo: "alguém que seja irrepreensível, marido de uma só mulher, que tenha filhos crentes que não sejam acusados de libertinagem, nem desobedientes. Pois, como responsável pela obra de Deus, é necessário que o bispo (ou líder, supervisor) seja irrepreensível, não arrogante, nem inclinado a brigas, nem ao vinho, nem violento, nem dominado pela ganância; mas hospitaleiro, amigo do bem, sóbrio, justo, piedoso, equilibrado; que se mantenha firme na palavra fiel, conforme a doutrina, para que seja capaz tanto de exortar na sã doutrina quanto de convencer os seus opositores" (Tito 1.6-9; leia também 1 Timóteo 3.1-7).

Em seu livro Vencendo com as pessoas (Ed. Thomas Nelson Brasil, 2007, p.247), John C. Maxwell destaca algumas atitudes de honra que o líder deve ter com relação às pessoas que lidera:
Sirva-as. Permita que liderem e façam as coisas à sua maneira, e dê uma assistência, quando necessário.
Oriente-as. Responda às suas perguntas, dê o exemplo e só corrija ou determine alguma coisa quando sentir que fará uma diferença.
Valorize-as. Ouça as suas ideias, respeite suas opiniões e nunca as desautorize.
Recompense-as. Cuide bem daqueles que cuidam bem de você.
A honra também está associada a autoridades e governos, pois estes foram constituídos por Deus e servem para o nosso bem, apesar de toda injustiça e corrupção. Depende de uma sujeição voluntária de nossa parte aos governantes: "Dai a cada um o que lhe é devido: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem temor, temor; a quem honra, honra" (Romanos 13.7). Em seguida, Paulo admoesta: "Não fiqueis devendo coisa alguma a ninguém, a não ser o amor de uns para com os outros; pois quem ama o próximo tem cumprido a lei" (13.8). Veja que novamente o amor aparece como força motriz de tudo - até na hora de pagar impostos! Se tivermos que dever algo, que seja somente o amor. Já o apóstolo Pedro destaca em sua segunda epístola: "Sujeitai-vos a toda autoridade humana por causa do Senhor, seja ao rei, como soberano, seja aos governadores, como por ele enviados para punir os praticantes do mal e honrar os que fazem o bem. [...] Honrai a todos. Amai os irmãos. Temei a Deus. Honrai o rei" (2 Pedro 2.13,14,17).

É óbvio que não podemos aceitar passivamente quando governos se opõem ao Reino de Deus e Sua Justiça. A ação mais imediata é orarmos e intercedermos por todos os homens, pelas autoridades e pelos governos, para que tenhamos paz e tranquilidade (1 Timóteo 2.1-2). Devemos assumir uma vida totalmente fundamentada nos valores do Reino, de tal modo que o amor, o serviço, a devoção a Deus, o partir do pão, o cuidado uns aos outros, a pregação do Evangelho e a manifestação do poder do Espírito Santo sejam marcas inquestionáveis aos perdidos de que Cristo vive e habita em nós. Nesse caso, mesmo ante possíveis (e prováveis) perseguições, a igreja poderá novamente "transtornar o mundo" pela forma como honramos o Pai e a salvação que recebemos do Filho e como honramos uns aos outros pela comunhão do Espírito Santo que nos une.

Na última parte, apontamos algumas ações práticas que podemos tomar com relação à honra entre nós.

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