Igreja: Comunidade de Amor - Parte 2

Luciano Motta

Estou postando no blog uma série de palavras que tenho ministrado nas últimas semanas a respeito da igreja e seu caráter comunitário (em breve esse conteúdo estará em livro). Predomina no texto a organização em tópicos, por isso nos marcadores aparecem "artigos" e "esboços".

// CONFIRA AQUI A PRIMEIRA PARTE ANTES DE PROSSEGUIR //

A Igreja é a expressão na terra da Comunidade do Amor: Pai, Filho e Espírito Santo. Da mesma forma que vemos em Elohim, devemos desenvolver relacionamentos de aliança que irão promover entre nós afirmação, confiança, interdependência e proteção.

Algumas referências bíblicas:

"Portanto, eu, prisioneiro no Senhor, peço-vos que andeis de modo digno para com o chamado que recebestes, com toda humildade e mansidão, com paciência, suportando-vos uns aos outros em amor, procurando cuidadosamente manter a unidade do Espírito no vínculo da paz. Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança do vosso chamado; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, que é sobre todos, por todos e está em todos" (Efésios 4.1-6).

"Portanto, irmãos, tendo coragem para entrar no lugar santíssimo por meio do sangue de Jesus, pelo novo e vivo acesso que ele nos abriu através do véu, isto é, do seu corpo. Tendo um grande sacerdote sobre a casa de Deus, aproximemo-nos com coração sincero, com a plena certeza da fé, com o coração purificado da má consciência e tendo o corpo lavado com água limpa. Sem vacilar, mantenhamos inabalável a confissão da nossa esperança, pois quem fez a promessa é fiel. Pensemos em como nos estimular uns aos outros ao amor e às boas obras, não abandonemos a prática de nos reunir, como é costume de alguns, mas, pelo contrário, animemo-nos uns aos outros, quanto mais vedes que o Dia se aproxima" (Hebreus 10.19-25).

Agora, vamos pensar um pouco sobre o significado de "comunidade" - palavra que vem do latim communitas e que contém duas palavras em sua composição:

"Comum"
- Comunitário: refere-se ao uso de todos que fazem parte de um lugar ou de uma coletividade.
- Habitual: refere-se ao que acontece com frequência ou com facilidade (geral ≠ raro).
- Ordinário: refere-se ao que se encontra em todos os lugares (normal, vulgar ≠ anormal, incomum).
- “Em comum”: quando se partilha algo com outro ou outros; em conjunto com outro ou outros.

Comunidade é pertencer a uma coletividade (um grupo); é partilhar algo de si com o outro e de receber algo do outro para si (em encontros simples, normais, habituais, frequentes, naturais).

"Unidade"
- O número um; o princípio de uma numeração (ponto de partida, referência).
- Concórdia de vontades (união).
- Uniformidade, conformidade, identidade (como Jesus disse a respeito do Espírito Santo: "Allos Parakletos" = o diferente que é exatamente como o outro; carregam a mesma substância, o mesmo caráter).

Comunidade é se unir em concordância ao outro por um mesmo propósito, uma mesma causa, tendo uma mesma identidade; assim somos um ponto de referência (sal e luz) para o mundo.

O antropólogo Victor Turner desenvolveu os conceitos de Liminaridade e Communitas para explicar a dinâmica dos agrupamentos sociais: [1]

“Liminaridade” é a condição transitória na qual os sujeitos encontram-se destituídos de suas posições sociais anteriores. Observarmos isso nos momentos de margem dos "ritos de passagem", nas quais os sujeitos apresentam-se "indeterminados", em uma espécie de processo transitório de "morte social", para, em seguida, “renascerem” e reintegrarem-se à estrutura social.

“Communitas” correspondem aos agrupamentos de sujeitos temporariamente situados fora da estrutura social, pessoas que compartilham semelhantes condições liminares. Esse tipo de ajuntamento é espontâneo: há uma identificação de sua condição liminar. Alguns movimentos hippies e religiosos apresentam uma “condição liminar permanente” já que tais sujeitos se opõem ou, no mínimo, desafiam a estrutura social como única forma de organização social possível.

Sim, é possível afirmar que a Igreja é um ajuntamento de pessoas em “condição liminar permanente” neste mundo:

"Eles não são do mundo, assim como eu também não sou. Santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade. Assim como tu me enviaste ao mundo, eu também os enviei ao mundo. E por eles me santifico, para que também eles sejam santificados na verdade" (João 17.16-19).

"Foram apedrejados e provados, serrados ao meio, morreram ao fio da espada, andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras, necessitados, aflitos e maltratados. O mundo não era digno dessas pessoas. Andaram vagando por desertos e montes, por cavernas e buracos da terra" (Hebreus 11.37-38).

Em Cristo, nascidos de novo, somos unidos em "um só corpo e um só Espírito". Passamos a viver em "comunidades", em prol da Sua boa, agradável e perfeita vontade. Tornamo-nos “prisioneiros no Senhor” = não vivemos mais pelas nossas vontades, mas pelo propósito, pela palavra que recebemos de Deus. Isso está acima de nossas particularidades, embora Deus não anule nossos traços particulares, nossas individualidades. Ele trabalha para que todos vivamos unidos para a Sua Glória!

Atenção: pessoas em uma determinada igreja que se sentem “de fora”, ou “à parte” do coletivo, começam a se unir em grupos próprios – há uma identificação entre eles devido a sua "condição liminar", pois estão à margem do que está acontecendo na localidade. A fofoca e a maledicência, o partidarismo e as divisões começam aí. Por isso a necessidade e a urgência de permanentemente nos estimularmos uns aos outros ao amor e às boas obras.

Manter a unidade do Espírito no vínculo da paz é um grande desafio... Quem terá essa força, essa condição? Aqueles que entram diariamente no lugar santíssimo, que têm um coração sincero, que mantém inabalável a sua esperança (pessoas que animam uns aos outros de que o Dia do Senhor se aproxima!). Em suma: vida cristã não se vive sozinho e jamais devemos abandonar a prática de reunir.

Igreja é uma comunidade de amor; é pertencer a uma coletividade e, assim, partilhar algo de si com o outro e de receber algo do outro para si; é se unir em concordância ao outro por um mesmo propósito, uma mesma causa, tendo uma mesma identidade. Dessa forma, somos um ponto de referência (sal e luz) para o mundo.

Seja prático: Procure agora alguém da sua igreja ou um amigo(a) cristã(o) para encorajar na fé e na esperança que temos em Cristo!

Continua...

[1] TURNER, Victor Turner. "Liminaridade e Communitas".

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